A liberdade como superação
Jose Antonio Lopez Ortega Muller *
A liberdade humana consiste em abrir caminhos e na atitude para percorrê-los. Abrir caminhos não é fácil, porque uma série de obstáculos se opõe a isso. Em primeiro lugar, nossas limitações pessoais.
Muitas limitações pessoais podem englobar-se na expressão “não saber”. Não saber pensar, não saber decidir, não saber estudar, não saber trabalhar, não saber descansar, não saber utilizar o dinheiro, não saber responsabilizar-se de algo, não saber organizar o tempo, não saber retificar, etc. A relação das coisas que não se sabem ou que não se sabem fazer é inumerável. E tudo isso pode ficar incluído no epígrafe geral de ignorância.
Poderíamos fazer, pacientemente, um inventário do que habitualmente se ignora em cada idade, e seria uma ajuda valiosa, sem dúvida, na tarefa de organizar-se a ignorância de cada membro de uma família. Em todo caso, a ignorância prejudica tanto mais o crescimento de nossa liberdade quanto mais essencial é para o ser humano aquilo que se ignora.
Esta afirmação soa verdadeira. E, entretanto, é algo que possivelmente, muitas pessoas não sabem, aquelas que se ocupam eficaz e até febrilmente do acessório e, escudadas em uma duvidosa “ignorância invencível”, descuidam do essencial.
Cada ser humano, com idade suficiente para refletir, necessitaria perguntar-se freqüentemente: o que necessito saber e saber fazer? E a seguir: como poderia organizar meu tempo em função do que necessito saber e saber fazer? É, pois, uma questão de conhecimentos e de habilidades ou destrezas imprescindíveis. E, na transmissão, é uma questão de atitudes.
Vencer as ignorâncias relacionados com o essencial - e com o secundário que, por sua relação com o essencial, é também importante - é algo que requer vontade e tempo. Poderíamos destacar algumas ignorâncias fundamentais como estas: quem sou eu? de onde venho? e para onde vou?, em cuja superação gastaremos toda a vida.
Mencionado de outra maneira, não é possível chegar a saber e a saber fazer sem querer. Por isso, as limitações pessoais que se opõem ao querer, têm também a categoria de principiantes. Daí a importância de reconhecer o enorme papel limitado da passividade, a comodidade, a preguiça, a indecisão, inconstância, o egoísmo, etc., já que são modos de opor-se ao querer. Talvez de todas estas limitações, a mais grave seja o egoísmo.
A ignorância e o egoísmo são, pois, nossas principias limitações. Há muitas, mas necessitamos concentrar nosso esforço de superação nas principais, se verdadeiramente apreciamos nossa liberdade, isto é, se queremos fazer de nossa liberdade responsável uma conquista pessoal, diária.
Para abrir caminhos e poder percorrê-los necessitamos, em primeiro lugar, viver em nossa liberdade tentando superar as próprias deficiências e limitações, ainda que, apesar de nosso esforço, existam algumas insuperáveis.
Fonte: Extraído livro A Educação da Liberdade, de Jose Antonio Lopez Ortega Muller.